terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Pablo Neruda - Soneto L X X X I I















SONETO LXXXII

Amor meu, ao fechar esta porta noturna
te peço, amor, uma viagem por escuro recinto:
fecha teus sonhos, entra com teu céu em meus olhos,
estende-se em meu sangue como num amplo rio.

Adeus, adeus, cruel claridadeque foi caindo
no saco de cada dia do passado,
adeus a cada raio de relógio ou laranja,
saúde, oh sombra, intermitente companheira!

Nesta nave ou água ou morte ou nova vida,
uma vez mais unidos, dormidos, ressurgidos,
somos o matrimônio da noite no sangue.

Não sei quem vive ou morre, quem repousa ou desperta,
mas é teu coração o que reparte
em meu peito os dons da aurora.

PABLO NERUDA
In:"Cem sonetos de amor"

Talvez Tenha Tempo - Pablo Neruda


















TALVEZ TEMOS TEMPO


Talvez temos tempo ainda
para ser e para ser justos.
De uma maneira transitória
onde morreu a verdade
e embora o sabe todo mundo
todo mundo o dissimula:
ninguém lhe mandou flores:
já morreu e ninguém chora.

Talvez entre esquecimento e apuro
um pouco antes do enterro
teremos a oportunidade
de nossa morte e nossa vida
para sair de rua em rua,
de mar em mar, de porto em porto,
de cordilheira em cordilheira,
e sobretudo de homem em homem,
a perguntar se a matamos
ou se outros a mataram,
se foram nossos inimigos
ou nosso amor cometeu o crime,
porque já morreu a verdade
e agora podemos ser justos.

Antes devíamos pelejar
com armas de obscuro calibre
e por ferir-nos esquecemos
para que estamos pelejando.

Nunca se soube de quem era
o sangue que nos envolvia,
acusávamos sem cessar,
sem cessar fomos acusados,
eles sofreram, e sofremos,
e quando já ganharam eles
e também ganhamos nós
havia morrido a verdade
de antiguidade ou de violência.
Agora não há nada que fazer:
todos perdemos a batalha.

Por isso penso que talvez
por fim pudéssemos ser justos
ou por fim pudéssemos ser:
temos este último minuto
e logo mil anos de glória
para não ser e não voltar.

Pablo Neruda

Pablo Neruda - Metade












Metade

Que a força do medo que tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que tristeza.

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, e nem repetidas com fervor;
apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos...

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço...

E que essa tensão que me coroe por dentro seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo,
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância

Porque metade de mim é a lembrança
do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para faze-la florescer

Porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada,

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...também.
....
Pablo Neruda

Pablo Neruda - Saudades












Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver um futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos
que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja
sentir saudade..
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos;
Não ter por quem sentir saudade,
Passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca
ter sofrido.

Pablo Neruda

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Mário Quintana - Vento e eu











Vento e eu

o vento morria de tédio
porque apenas gostava de cantar
mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
cada vez mais vazia...
tentei então compor-lhe uma canção
tão comprida como a minha vida
e com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
como aquela em que menino eu fui roubado pelos ciganos
e fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo...
mas o vento, por isso
me julga agora como ele...
e me dedica um amor solidário, profundo!

Mario Quintana

Mário Quintana - Vidas










Vidas

Nós vivemos num mundo de espelhos,
mas os espelhos roubam nossa imagem...
Quando eles se partirem numa infinidade de estilhas
seremos apenas pó tapetando a paisagem.

Homens virão, porém, de algum mundo selvagem
e, com estes brilhantes destroços de vidro,
nossas mulheres se adornarão, seus filhos
inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.

E não posso terminar a visão
porque ainda não terminou o soneto
e o tempo é uma tela que precisa ser tecida...

Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida?
Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,
nossa eterna primeira canção?!

Mario Quintana

Fernando Pessoa - Posso










POSSO....

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas
não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensíveis e permeados de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da
própria história.E atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no interior da sua alma. E agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
E saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo... "
(Fernando Pessoa)

Mário Quintana - Triste encanto







Triste Encanto

Triste encanto das tardes borralheiras
Que enchem de cinza o coração da gente!
A tarde lembra um passarinho doente
A pipilar os pingos das goteiras...

A tarde pobre fica, horas inteiras,
A espiar pelas vidraças, tristemente,
O crepitar das brasas na lareira...
Meus Deus ... o frio que a pobrezinha sente!

Por que é que esses Arcanjos neurastênicos
Só usam névoa em seus feitos cênicos?
Nenhum azul para te distraíres...

Ah, se eu pudesse , tardezinha pobre,
Eu pintava trezentos arco-íris
Nesse tristonho céu que nos encobre...
(Mario Quintana)

Fernando Pessoa











Sonhe com as estrelas, mas apenas sonhe
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda a parte,
ele tem pressa de chegar, sabe-se lá aonde.
As lágrimas?Não as seque,
elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
O sorriso! Esse, voce deve segurar,
não o deixe ir embora, agarre-o !
Persiga um sonho, mas não o deixe viver sozinho
Alimente a sua alma com amor,
cure as suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca
Alague seu coração de esperanças, mas
não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue!
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Circunda-se de rosas, ama, e cala.
O mais é "nada".

Fernando Pessoa.

Cecília Meireles - A vida só é possível reinventada











Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.


Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
( Cecília Meireles)

Mário Quintana








"Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa adormecida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Óh! Meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes tu o bem que faz a gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!"
Mario Quintana

Fernando Pessoa - O Girassol











O Girassol "

O meu olhar é nítido como um girassol,
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e a esquerda
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei Ter o pasmo essencial que tem uma criança
Se ao nascer, reparasse que nasceras deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo
Creio no mundo como um malmequer
Porque o vejo, mas não penso nele
Porque pensar é não compreender
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque a amo, amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama.
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência
E a única inocência é não pensar."

(Fernando Pessoa)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Pablo Neruda - Mulheres









Mulheres

Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.

Elas brigam por aquilo que acreditam.
Elas levantam-se para injustiça.
Elas não levam “não“ como resposta
quando acreditam que existe melhor
solução.

Elas andam sem novos sapatos para
suas crianças poder tê-los.
Elas vão ao medico com uma amiga
assustada.
Elas amam incondicionalmente.

Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham
prêmios.
Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversario ou um novo casamento.

Pablo Neruda

Manoel Bandeira - A Fina, a Doce Ferida

















A Fina, a Doce Ferida

A fina, a doce ferida
Que foi a dor do meu gozo
Deixou quebranto amoroso
Na cicatriz dolorida.

Por que ardor pecaminoso
Ateou a esta alma perdida
A fina, a doce ferida
Que foi a dor do meu gozo.

Como uma adaga partida
Purge o golpe voluptuoso...
Que no peito sem repouso
Me arderá por toda a vida
A fina, a doce ferida...

Manuel Bandeira

Casemiro de Abreu - Saudade

















Saudades

Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;

Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!

Nessas horas de silêncio
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e de dor,

O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
Que nos enche de pavor.

Então - proscrito e sozinho -
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra

Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
- Saudades - Dos meus amores
- Saudades - Da minha terra!

(Casimiro de Abreu)

Pablo Neruda - Saudade



















Saudade

Pablo Neruda

Saudade é solidão acompanhada, é
quando o amor ainda não foi
embora, mas o amado já.

Saudade é amar um passado que
ainda não passou, é recusar um
presente que nos machuca, é não
ver o futuro que nos convida.

Saudade é sentir que existe o que
não existe mais.

Saudade é o inferno dos que
perderam, é a dor dos que ficaram
para trás, é o gosto de morte na
boca dos que continuam.

Só uma pessoa no mundo deseja
sentir saudade: aquela que nunca
amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca
ter sofrido.

Alberto Caeiro




















Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
assim quero que possa ser sempre —
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

(Alberto Caeiro)

Cora Coralina



















Tudo que eu criei e defendi
nunca deu certo
nem foi aceito
eu perguntava a mim mesma por que?

Quando menina
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim
acontecia a alguém
fulana nasceu antes do tempo
Guardei

Tudo que criei imaginei e defendi
nunca foi feito
e eu dizia como ouvia a moda de consolo
nasci antes do tempo

Alguém me retrucou
você nasceria antes do seu tempo?
não entendi e disse amém

Cora Coralina

Fernado Pessoa



















"O que nós vemos das cousas são as cousas.
por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestilda!)
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrêlas são freillras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores

Fernando Pessoa














ĦOJЄ ΜЄ ÐЄI CONТĄ 

 Ħσjε мε đεi cσŋτα đε qυε αs ρεssσαs
 vivεм α εsρεrαr ρσr αlgσ
 Є qυαŋđσ sυrgε υмα σρσrτυηiđαđε
 Sε đizεм cσŋfυsαs ε đεsρrεραrαđαs,
 Sεŋτεм qυε ŋãσ мεrεcεм,
 Qυε σ τεмρσ cεrτσ αiŋđα ŋãσ cђεgσυ,

 Є α viđα ραssα ε σs мσмεŋτσs sε αcυмυlαм
 Cσмσ ραρέis sσbrε υмα мεsα.
 Єsταмσs ŋσs ρrεραrαŋđσ ραrα qυαlqυεr cσisα
 Μαs αiηđα ŋãσ αρrεŋđεмσs α vivεr,
 Д αrriscαr ρσr αqυilσ qυε qυεrεмσs,
 Д sεŋτir αqυilσ qυε sσŋħαмσs.

 Є αssiм αđiαмσs ŋσssσs điαs
 Є ŋσssαs viđαs ρσr τεмρσ iŋđετεrмiŋαđσ
 Дτέ qυε α viđα sε εŋcαrrεgυε đε đεciđir
 ρσr ŋós мεsмσs,
 Є ρεrcεbεмσs σ qυαŋτσ ρεrđεмσs
 Є σ ταŋτσ qυε ρσđεríαмσs τεr εviταđσ.

         ( Ŧεrŋαŋđσ Pεssσα )

Miguel Torga - Sísifo
























Sísifo

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

Carlos Drummond de Andrade - Memória


















Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Plabo Neruda



















Que a terra me floresta nas ações
como no ouro suculento das vinhas,
que perfume a dor de minhas canções
como um fruto esquecido na campina.

Que me transcenda a carne a semeadura
ávida de brotar por toda parte,
que minhas artérias levem água pura,
água que canta quando se reparte!

Desnudo quero estar sobre sarmentos,
pisado pelos cascos inimigos,
quero me abrir e repartir sementes
de pão, eu quero ser de terra e trigo!

Pablo Neruda.

Ricardo Domeneck - Bom dia estranho
























BOM DIA ESTRANHO

Bom dia estranho,
faz-me companhia nessa manhã gelada?
sirva-se de leite ou chá à gosto,
duas pedrinhas de açúcar à contento,
para adoçar esse amargor de minh'alma,
chorando dia e noite por algo que se foi,
mas se nunca foi, como poderia ter ído?

Bom dia estranho,
consola-me nesse mar revolto,
nesse estado de angústia que me consome,
nessa rebelião de vontades em mim,
quando só queria sentar e ver um pôr do sol,
esperando arrancar essa raíz que me prende,
esperando desvendar-me por inteiro,
mas como posso mapear meus passos?

Bom dia estranho,
reconheço de longe sua fisionomia,
causa-me arrepio sua visita,
a dor que levo no peito se amplia,
ouço o pulsar de um coração desesperado,
não retire o chapéu,
não mostre a face,
não me faça admitir o que tento esconder,
é estranho...a paixão me toma
e você é aquilo que mais temo: o amor...

Bom dia estranho,
bem vindo ao caos da minha vida!


(Ricardo Domeneck - Bom dia estranho!)

Nando Cordel - Noite de lua



















Noite de lua

Eu ainda não sei controlar direito
a natureza exuberante e maravilhosa
que existe dentro de mim;
As árvores da minha bondade
ainda não dão frutos cem por cento doces;
O rio dos meus pensamentos,
ainda não despoluiu totalmente;
A lua cheia de minha vida,
não consegue clarear indistintamente;
O mar da minha bondade,
e suas ondas gigantes, ainda machucam;
A chuva de compaixão do meu verão,
ainda causa inundação;
O céu azul do meu planeta íntimo,
se veste de roxo vez em quando;
Preciso tomar providências:
apesar de ser difícil, vou à luta.
Eu quero colocar na minha noite,
lampiões e depois estrelas;
Eu quero engravidar de Amor;
voar nas asas da Sabedoria e da Caridade;
E com muita certeza no coração,
Dar à luz a uma vida plena.

"Nando Cordel"

Charkie Chaplin Tua Caminhada

















Tua Caminhada


Tua caminhada ainda não terminou....
A realidade te acolhe
dizendo que pela frente
o horizonte da vida necessita
de tuas palavras
e do teu silêncio.

Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e
sonha com tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz
e não do ressentimento.

É certo que irás encontrar situações
tempestuosas novamente,
mas haverá de ver sempre
o lado bom da chuva que cai
e não a faceta do raio que destrói.

Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar a perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que rola
e o coração necessita de afeto.

Não faças do amanhã
o sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás...
mas vá em frente
pois há muitos que precisam
que chegues para poderem seguir-te.

- Charles Chaplin -

Mário Quintana Amor é Síntese

























AMOR É SÍNTESE
Mario Quintana

"Por favor não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito amor."

domingo, 14 de outubro de 2007

O Cotidiano/Gau















O Cotidiano

Estrelas, estrelas, estrelas;
Lua, lua, luas;
Noite, noite, noite;
Momentos que se repetem, repetem...
Aqueles que nunca se esquecem, esquecem...
E, outros... Todos que adormecem!
Daqueles que se merecem?
No pernoite enlouquecem...
Nos cobertores de amor enlouquecem,
E como sonhos de paixão amanhecem...
Manha manhã, manhã amanhã,
Choro de bebê, manha?
Manhã... Sol, sol, sol, ilumina e assanha...
No trabalho do suor que apanha?
O dinheiro que se gasta e ganha...
De repente, aquela façanha!
É hora de acordar, estranha?
A luz do dia é tamanha!
Na correria que mancha...
Transeuntes passando, artimanha...
Entre ruídos, grito: cadê Pessanha?
Nestas horas, a poesia acalma,
Do transtorno, vivifica a alma?
No crepúsculo há palmas, palma...
Do cotidiano diurno do trauma?
À noite serena de calma...!
Dia, dia, dia...
Noite, noite, noite...
Gau

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Mário Quintana/A rua dos cataventos


A rua dos cataventos
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror!
Voejai!Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Mario Quintana

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Cecília Meirelis/Inscrição


Inscrição

Sou entre flor e nuvem,estrela e mar.
Por que havemos de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar
Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura
e encanto indiferente
de herança,em cada lugar.
Rastro de flor e estrela,nuvem e mar.
Meu destino é mais longe
e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.

Cecília Meireles

domingo, 7 de outubro de 2007

Cecília Meireles/Canção de Outono

CANÇÃO DE OUTONO
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles que não se levantarão...
Tu és a folha de outono voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles



sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Fernando Pessoa/Horizonte



Horizonte
O mar anterior a nós,
teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe,
e o Sul sidério'Splendia sobre sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa ---
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte ---
Os beijos merecidos da Verdade.
Fernando Pessoa

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Cartola/As rosas não falam




As Rosas Não Falam

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão enfim

Volto ao jardim
Na certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim

Queixo-me às rosas,
mas que bobagem
As rosas não falam

Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti
Devias vir

Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhava meus sonhos
Por fim.

(Cartola)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Florbela Espanca/Alma de Poeta




FRORBELA ESPANCA
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Fernando Pessoa



Destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada podeDizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
(Fernando Pessoa

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Gau/Um Equilíbrio Ideal
















UM EQUILÍBRIO IDEAL(Gau)

No fascínio dos trâmites da aventura,
Driblando as boas doses de loucura,
Pra levar o ritmo da vida com formosura,
Devemos ter ótimos jogos de cintura,

Remover das palavras, a amarga secura,
Dos belos retratos, a falsa moldura,
Dos nossos modos, toda impostura,
Das dissimulações, ironias com brandura,

Dos olhos, a lágrima que perdura,
Do coração, o ódio que perfura,
Do caráter, aquela máscara impura,
Do cotidiano, os traumas da vida escura,

Promover nos amores, afetuosa ternura,
Nas emoções, carinhosa doçura,
Na dor, aquele ar que cura,
Nas fissuras, envolventes ataduras,

Na política, uma negação da ditadura,
Na filosofia, reflexão sobre a cultura,
Na poesia, versos de grandiosa candura,
Na amizade, sincera e permanente semeadura.

Poeta Mineiro/A Natureza



A natureza é bela, inocente,
Com tua ganância,
o homem destrói,
Não pensa no futuro,
só no presente,
Destroem matas e rios,
nele não dói,
Onde está a consciência,
pobre diabo,
Que na ânsia do poder,
tudo devasta,
Não pensa no teu fruto,
oh! Devasso,
Com a pseudo-onipotência,
deixa o rasto,
Matas queimadas,
rios poluídos,
Crianças com fome,
mendigos nas ruas,
Não enxerga, não ouve, todos perdidos,
Qual o mundo que nos pertencem?
Homem...Será que não pensa, que um dia,
O teu fruto, de uma sombra precisar?
Aí homem, já é muito tarde,
Nada para o futuro restará.
Autor: Poeta Mineiro

Louca Procura/Poeta Mineiro


LOUCA PROCURA
Não sei o que fazer
Para te encontrar
Já lhe procurei
Em todo lugar
Penso em você
Toda hora, todo momento,
Não sei o que fazer
Com tanto sofrimento
Você chegou de repente
E foi embora sem avisar
Deixou só saudade,
E um coração a dilacerar
Tu és uma criatura
De uma sensibilidade tão fina
Corpo de mulher
E alma de menina
Que felicidade seria
Sentir o teu corpo ao meu
Inalar o teu perfume
E sorver o beijo teu
Isto é loucura
Não consigo controlar
Misturar teu suor ao meu
Até nos saciar.
Autor: Poeta Mineiro

Águida Hettwer/Hoje Me Contento




HOJE ME CONTENTO...

Acolho com ternura frases ditas
Na essência perfumada do olhar,
Adentro as margens do tempo,
Despindo a alma em doces devaneios.

Lágrima incontida acariciando a face,
Na luminosidade do alvorecer,
O silêncio aconselha-me,
A eternizar o momento profundo.

Faz-me meditar meus valores,
Naquilo que acredito,
A força que me sustenta,
E me faz ver além.

Transformo-me em gigante,
Em situações reais do cotidiano,
Cenário banal,passado em filme,
Em preto e branco.

Quisera retroceder o tempo,
Instalar-me nos corações,
Passeando lentamente,
Descobrindo os porquês de muitas perguntas.

Respostas que talvez um dia,
Com clareza eu consiga entender,
Hoje me contento...
Em simplesmente viver!-

(Águida Hettwer)-

Mário Quintana/Recordo Ainda



Recordo Ainda
Mario Quintana

Recordo ainda...
e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui...
Mas, ai,
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino...acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Cecília Meireles/Canção do Caminho




CANÇAO DO CAMINHO

Por aqui vou sem programa,
sem rumo,sem nenhum itinerário.
O destino de quem amaé vário,
como o trajeto do fumo.
Minha canção vai comigo.
Vai doce.
Tão sereno é seu compasso
que penso em ti, meu amigo.
- Se fosse,em vez da canção, teu braço!
Ah! mas logo ali adiante- tão perto!
-acaba-se a terra bela.
Para este pequeno instante,
decerto,é melhor ir só com ela.
(Isto são coisas que digo,
que invento,para achar a vida boa...
A canção que vai comigo
é a forma de esquecimento
do sonho sonhado à toa...)

Cecília Meireles

domingo, 30 de setembro de 2007

Plabo Neruda/Noite




Noite!!

Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água,
de quadris, até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens
e nações tu e eu tínhamos que
simplesmente amar-nos com todos confundidos,
com homens e mulheres,
com a terra que implanta
e educa cravos.

(Pablo Neruda)

Carlos Drummond de Andrade/O amor antigo



O AMOR ANTIGO
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede.
Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não.
Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade

Mário Quintana




“Não quero alguém
que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim,
que queira
estar junto de mim, me abraçando...
Não exijo que esse alguém
me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame,
não me importando com que intensidade...
Não tenho a pretensão de que
todas as pessoasque gosto,
gostem de mim...
Nem que eu faça
a falta que elas me fazem;
o importante pra mim é saber que eu,
em algum momento,
fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível...
Só quero que meu sentimento seja valorizado.

”Mario Quintana

Plabo Neruda


Quantas vezes, amor,
te amei sem ver-te
e talvez sem lembranças,
sem reconhecer teu olhar,
sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias,
num meio-dia queimantes:
era só o aroma dos cereais que amo.
Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas
e ressoou como o mar desmedido.
Te amei sem que eu o soubesse,
e busquei tua memória.
Nas casas vazias entrei
com lanterna a roubar teu retrato.
Mas eu já não sabia como eras.
De repente
enquanto ias comigo te toquei
e se deteve minha vida:
diante de meus olhos estavas,
regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino.
Pablo Neruda

Pablo Neruda/Saudades




Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou."
E esse é o maior dos sofrimentos:
Não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...

Pablo Neruda

Plabo Neruda/Ausência




AUSÊNCIA
Mal, amor, te deixei,
vais em mim, cristalina
ou toda trêmula,
ou inquieta, ferida por mim mesmo
ou plena de amor,
como quando os teus olhos
se fecham sobre o dom da vida
que sem cessar te entrego.
Amor meu,
nós dois nos encontramos
sedentos e bebemos
toda a água, todo o sangue,
nos encontramos com fome
e nos mordemos
como o fogo morde,
abrindo-nos feridas.
Porém, espera-me,
guarda-me tua doçura.
Eu te darei também
uma rosa.
Pablo Neruda

Miguel Torga/Viagem




*Viagem*

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

*Miguel Torga *

Carlos Drumond de Andrade/Faxina na alma



FAXINA NA ALMA

Não importa onde você parou...
Em que momento da vida você cansou...
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
É renovar as esperanças na vida e o mais importante...
Acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
Foi aprendizado...
Sentiu-se só por diversas vezes?
É porque fechaste a porta até para os anjos...
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora...
Pois é...Agora é hora de reiniciar...
De pensar na luz...
De encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Um corte de cabelo arrojado...
Diferente?Um novo curso...
Ou aquele velho desejo de aprender a pintar...
Desenhar...dominar o computador...
Ou qualquer outra coisa...
Olha quanto desafio...
Quanta coisa nova nesse mundão
De meu Deus te esperando.
Tá se sentindo sozinho?
Besteiras...
Tem tanta gente esperando um sorriso teu
para “chegar” perto de você.“
Carlos Drumond de Andrade