domingo, 30 de setembro de 2007

Plabo Neruda


Quantas vezes, amor,
te amei sem ver-te
e talvez sem lembranças,
sem reconhecer teu olhar,
sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias,
num meio-dia queimantes:
era só o aroma dos cereais que amo.
Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas
e ressoou como o mar desmedido.
Te amei sem que eu o soubesse,
e busquei tua memória.
Nas casas vazias entrei
com lanterna a roubar teu retrato.
Mas eu já não sabia como eras.
De repente
enquanto ias comigo te toquei
e se deteve minha vida:
diante de meus olhos estavas,
regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino.
Pablo Neruda

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