domingo, 14 de outubro de 2007

O Cotidiano/Gau















O Cotidiano

Estrelas, estrelas, estrelas;
Lua, lua, luas;
Noite, noite, noite;
Momentos que se repetem, repetem...
Aqueles que nunca se esquecem, esquecem...
E, outros... Todos que adormecem!
Daqueles que se merecem?
No pernoite enlouquecem...
Nos cobertores de amor enlouquecem,
E como sonhos de paixão amanhecem...
Manha manhã, manhã amanhã,
Choro de bebê, manha?
Manhã... Sol, sol, sol, ilumina e assanha...
No trabalho do suor que apanha?
O dinheiro que se gasta e ganha...
De repente, aquela façanha!
É hora de acordar, estranha?
A luz do dia é tamanha!
Na correria que mancha...
Transeuntes passando, artimanha...
Entre ruídos, grito: cadê Pessanha?
Nestas horas, a poesia acalma,
Do transtorno, vivifica a alma?
No crepúsculo há palmas, palma...
Do cotidiano diurno do trauma?
À noite serena de calma...!
Dia, dia, dia...
Noite, noite, noite...
Gau

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Mário Quintana/A rua dos cataventos


A rua dos cataventos
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror!
Voejai!Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Mario Quintana

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Cecília Meirelis/Inscrição


Inscrição

Sou entre flor e nuvem,estrela e mar.
Por que havemos de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar
Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura
e encanto indiferente
de herança,em cada lugar.
Rastro de flor e estrela,nuvem e mar.
Meu destino é mais longe
e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.

Cecília Meireles

domingo, 7 de outubro de 2007

Cecília Meireles/Canção de Outono

CANÇÃO DE OUTONO
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles que não se levantarão...
Tu és a folha de outono voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles



sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Fernando Pessoa/Horizonte



Horizonte
O mar anterior a nós,
teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe,
e o Sul sidério'Splendia sobre sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa ---
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte ---
Os beijos merecidos da Verdade.
Fernando Pessoa

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Cartola/As rosas não falam




As Rosas Não Falam

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão enfim

Volto ao jardim
Na certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim

Queixo-me às rosas,
mas que bobagem
As rosas não falam

Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti
Devias vir

Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhava meus sonhos
Por fim.

(Cartola)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Florbela Espanca/Alma de Poeta




FRORBELA ESPANCA
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Fernando Pessoa



Destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada podeDizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
(Fernando Pessoa

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Gau/Um Equilíbrio Ideal
















UM EQUILÍBRIO IDEAL(Gau)

No fascínio dos trâmites da aventura,
Driblando as boas doses de loucura,
Pra levar o ritmo da vida com formosura,
Devemos ter ótimos jogos de cintura,

Remover das palavras, a amarga secura,
Dos belos retratos, a falsa moldura,
Dos nossos modos, toda impostura,
Das dissimulações, ironias com brandura,

Dos olhos, a lágrima que perdura,
Do coração, o ódio que perfura,
Do caráter, aquela máscara impura,
Do cotidiano, os traumas da vida escura,

Promover nos amores, afetuosa ternura,
Nas emoções, carinhosa doçura,
Na dor, aquele ar que cura,
Nas fissuras, envolventes ataduras,

Na política, uma negação da ditadura,
Na filosofia, reflexão sobre a cultura,
Na poesia, versos de grandiosa candura,
Na amizade, sincera e permanente semeadura.

Poeta Mineiro/A Natureza



A natureza é bela, inocente,
Com tua ganância,
o homem destrói,
Não pensa no futuro,
só no presente,
Destroem matas e rios,
nele não dói,
Onde está a consciência,
pobre diabo,
Que na ânsia do poder,
tudo devasta,
Não pensa no teu fruto,
oh! Devasso,
Com a pseudo-onipotência,
deixa o rasto,
Matas queimadas,
rios poluídos,
Crianças com fome,
mendigos nas ruas,
Não enxerga, não ouve, todos perdidos,
Qual o mundo que nos pertencem?
Homem...Será que não pensa, que um dia,
O teu fruto, de uma sombra precisar?
Aí homem, já é muito tarde,
Nada para o futuro restará.
Autor: Poeta Mineiro

Louca Procura/Poeta Mineiro


LOUCA PROCURA
Não sei o que fazer
Para te encontrar
Já lhe procurei
Em todo lugar
Penso em você
Toda hora, todo momento,
Não sei o que fazer
Com tanto sofrimento
Você chegou de repente
E foi embora sem avisar
Deixou só saudade,
E um coração a dilacerar
Tu és uma criatura
De uma sensibilidade tão fina
Corpo de mulher
E alma de menina
Que felicidade seria
Sentir o teu corpo ao meu
Inalar o teu perfume
E sorver o beijo teu
Isto é loucura
Não consigo controlar
Misturar teu suor ao meu
Até nos saciar.
Autor: Poeta Mineiro

Águida Hettwer/Hoje Me Contento




HOJE ME CONTENTO...

Acolho com ternura frases ditas
Na essência perfumada do olhar,
Adentro as margens do tempo,
Despindo a alma em doces devaneios.

Lágrima incontida acariciando a face,
Na luminosidade do alvorecer,
O silêncio aconselha-me,
A eternizar o momento profundo.

Faz-me meditar meus valores,
Naquilo que acredito,
A força que me sustenta,
E me faz ver além.

Transformo-me em gigante,
Em situações reais do cotidiano,
Cenário banal,passado em filme,
Em preto e branco.

Quisera retroceder o tempo,
Instalar-me nos corações,
Passeando lentamente,
Descobrindo os porquês de muitas perguntas.

Respostas que talvez um dia,
Com clareza eu consiga entender,
Hoje me contento...
Em simplesmente viver!-

(Águida Hettwer)-

Mário Quintana/Recordo Ainda



Recordo Ainda
Mario Quintana

Recordo ainda...
e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui...
Mas, ai,
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino...acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Cecília Meireles/Canção do Caminho




CANÇAO DO CAMINHO

Por aqui vou sem programa,
sem rumo,sem nenhum itinerário.
O destino de quem amaé vário,
como o trajeto do fumo.
Minha canção vai comigo.
Vai doce.
Tão sereno é seu compasso
que penso em ti, meu amigo.
- Se fosse,em vez da canção, teu braço!
Ah! mas logo ali adiante- tão perto!
-acaba-se a terra bela.
Para este pequeno instante,
decerto,é melhor ir só com ela.
(Isto são coisas que digo,
que invento,para achar a vida boa...
A canção que vai comigo
é a forma de esquecimento
do sonho sonhado à toa...)

Cecília Meireles